Friday, November 27, 2009

João da Poli I- A resistência

O que significa ser resistente? Significa ser João da Poli.
Início do terceiro semestre do curso de Ciências Moleculares. Disciplina de Biologia III. As fatigantes aulas de laboratório estavam desgastando a todos. De fato, tais aulas consistiam de uma longa jornada, começando às oitos horas da manhã para terminarem tipicamente às nove horas da noite com uma pequena pausa de meia hora para o almoço. Em anos anteriores este horário era inexistente para com isso aumentar em meia hora o tempo de trabalho. No entanto, ao perceber que o rendimento dos alunos caía consideravelmente à tarde, a comissão coordenadora decidiu instituir o horário de almoço para aqueles que realmente julgassem necessário se alimentar.
No entanto, caro leitor, esta não é a faceta mais tenebrosa desta disciplina. Como todo curso de laboratório, era obrigatório, ao final da experiência, fazer um relatório. Tal relatório deveria abranger todos os aspectos daquelas duas semanas de experiências, primando pela sua eloqüência em mostrar resultados e conclusões inéditas para a ciência, sendo portanto dignas de serem publicadas em revistas científicas de renome internacional. Sem dúvida uma tarefa árdua para nossos McQuarries, ainda apenas alunos de graduação. No entanto tal desafio não intimidou nosso João da Poli. Sim, ele estava disposto a cumprir a tarefa designada a ele com verdadeira honra e coragem.
João da Poli entrou na sala de computação. Tomou emprestada a cadeira de Seu Mineo, o mentor do curso de Ciências Moleculares, e sentou-se em frente a um computador. Olhou então para o seu relógio. Haviam exatamente 72 horas entre aquele momento e o prazo para a entrega do relatório. João da Poli fechou os olhos e mentalizou o seu dever, que era o de trabalhar sem descanso durante todo o tempo que tinha disponível até a conclusão de seu trabalho. Não era permitido fraquejar, sono e fome deveriam ser adversários desprezíveis frente a sua enorme força de vontade de realizar com êxito o relatório.
O que vem a seguir é apenas a demonstração incontestável da gigantesca resistência de João da Poli. Lutando bravamente contra a fome e o sono, inimigos implacáveis, ele se recusava terminantemente de sair da frente do computador e interromper o seu trabalho. Até mesmo suas necessidades fisiológicas tiveram de esperar. Durante 72 horas ininterruptas João da Poli não saiu da frente do computador, nem mesmo por um segundo. Um ser humano normal teria morrido.
Ao fim desta fatigante jornada o relatório estava pronto. João da Poli levantou-se trôpego da cadeira de Seu Mineo, sem saber exatamente se ainda estava vivo. Em seguida foi até a sala da professora para entregar o relatório. Após duas semanas recebeu sua nota: 5,1. Uma nota justa no CM por tanto esforço!

Wednesday, May 03, 2006

Líder II- A recusa

Este fato já se passou há algum tempo. Ano de 2003. Festa de aniversário do McQuarrie Eduardo. Muitos McQuarries compareceram ao barzinho onde se dava a festa. Havia uma grande mesa onde todos eles, assim que chegavam, iam se sentando e a conversa fluia animada. Tópicos de grande interesse popular sobre matemática, física e química se seguiam numa discussão acalorada, porém amistosa. Dentre estes assuntos há uma forte lembrança deste narrador sobre a conversa erudita entre o Químico e o Matemático. Os nomes de ambos dispensam qualquer comentário sobre o altíssimo nível do diálogo. No entanto, apesar da conversa dos dois ter sido extraordinariamente bela, não só pelo rico vocabulário empregado como também pelo conteúdo expresso, não é este o enfoque desta história.
Neste presente conto, vamos relatar um ato verdadeiramente heróico, evento de grande raridade nos dias atuais. O herói a quem vamos nos referir não podia ser outro, senão o Líder, aquele que dá o real sentido ao nome. De fato, um líder com L maiúsculo.
Os McQuarries não eram os únicos convidados de Eduardo. Haviam ainda amigos de muitas outras partes do mundo. E dentre todas estas pessoas, existia uma mulher que se destacava pela sua inigualável beleza. Sim, era realmente bela. Simultâneamente à sua presença, Líder estava vendo o cardápio, sentado confortavelmente à mesa. Foi então que a bela mulher deitou os seus olhos no nosso amigo. Sua paixão foi imediata. Jamais vira um homem com tamanho espírito de liderança e isto a atraia inexoravelmente. Incapaz de se conter por mais tempo ela foi até o lado de Líder. Infelizmente não havia uma cadeira disponível, mas isso não seria um problema. Gentilmente ela disse:
_ Olá, eu posso ver um pouco o cardápio?
E simultaneamente seus braços envolveram Líder, chegando até o dito cardápio. Era praticamente um abraço vindo de trás, faces quase coladas lateralmente e mãos quase unidas sobre o cardápio.
Seria um sonho para qualquer homem. Porém, para Líder, um amante incondicional da ciência, era uma situação desesperadora. Antes de mais nada um cientista deve servir à ciência, nada mais. Sua vida deve ser devotada exclusivamente a isto. Como incluir uma mulher neste árido meio? Como? Por outro lado, Líder era, ainda, um homem. As paixões terrenas conviviam antagonicamente em sua mente escondidas sob o manto da ciência. No entanto, a presença tão próxima de uma mulher tão bela reacendia esta chama humana. Havia, sem dúvida, um grande conflito em seus pensamentos.
Percebendo que seu primeiro ataque não tinha surtido efeito, a bela mulher começou a falar no ouvido de Líder, tentando a todo custo dominá-lo. Líder resistia. Sabia o que era correto e portanto sabia que jamais deveria se entregar. Mas era difícil. Os sentimentos se revoltavam quase que de modo incontrolável e dificultavam o pensamento são.
A bela mulher ainda não estava obtendo resultados. Para ela isto era inaceitável. Jamais algum homem teve a coragem, a ousadia de recusá-la. E não seria agora que isto aconteceria. Sim, mesmo que tivesse que jogar sujo, ela conseguiria o seu intento.
E foi usando esta última cartada, decidida a utilizar o meio mais vil e cruel, que ela disse:
_ Ai, eu quero trepar com você, Líder.
Era agora ou nunca. Líder usou então toda a força que lhe restava para dizer de forma magnânima e acabar com aquilo de uma vez por todas:
_ Não minha filha, eu não sou disso. Eu sou viado, não sei se você sabe.
Fim de jogo.

Friday, April 28, 2006

Roque I- A dúvida matemática

Os McQuarries Atkins, Roque e Madruga haviam se encontrado casualmente no Instituto de Física e estavam então se dirigindo para fora dele. O dia ensolarado e o verde vivo do gramado eram um amistoso convite para conversar.
_Vamos descer até o CM?- perguntou polidamente Madruga, na época em que este ainda não falava palavrões.
_Tudo bem, mas eu tenho que passar no IME antes pra falar com o meu orientador- respondeu Roque.
_Ah é, pra quê?
_É que eu estou com uma dúvida num problema e vou pedir ajuda a ele.
Roque continuou andando, possivelmente sem se dar conta da gravidade do que tinha dito. No entanto, aquilo não tinha como passar despercebido por Atkins e Madruga. Estes pararam imediatamente ao ouvir aquelas palavras, estarrecidos. Logo em seguida Roque percebeu que estava andando sozinho e voltou-se para seus amigos.
_O que foi?
Tentando recuperar o fôlego, Atkins e Madruga ainda não conseguiam dizer palavra alguma. A perplexidade tomara conta dos dois, querendo ainda acreditar que seus ouvidos os tinham enganado. Sim, só podia ser aquilo. Talvez na hora em que Roque tivesse falado, o vento tivesse soprado de uma forma diferente, fazendo com que surgissem palavras absurdas de sua boca. Ou talvez ainda fosse uma grande brincadeira de mal gosto por parte dele.
Madruga foi o primeiro a recuperar o fôlego e disse, ainda trêmulo:
_Roque, você está falando sério?
_Sim, por quê?
Não havia dúvida. Estas eram realmente as palavras dele. E não parecia ser uma brincadeira. O mais grave, talvez, era o fato de que Roque não tinha tomado ainda real consciência do que dissera.
Madruga, se esforçando ferrenhamente para não cair diante do desespero, disse, quase que como num apelo:
_Roque, você tem certeza disso? Como é que você pode ter uma dúvida em matemática?
O leitor talvez estranhe a situação. De fato, é bom antes de continuar a história, contar que Roque não é um ser humano comum. Suas façanhas matemáticas seriam capazes de deixar boquiaberto até mesmo Gauss, se este ainda estivesse vivo. Roque enfrentou destemidamente várias matérias de pós graduação no IME, mesmo sendo ainda apenas um aluno de graduação.
Agora que já situamos o leitor prosseguiremos com o nosso conto.
Pois bem, Roque foi até o IME. Atkins e Madruga decidiram não acompanhá-lo, pois temiam as conseqüências deste feito.
Roque entrou na sala de seu orientador.
_O que o traz aqui Roque?
_Bom, é que eu estou com uma dúvida.
Isso foi o suficiente para o professor ficar paralizado. Não só o professor, mas tudo a volta de Roque cessou o seu movimento. Os pássaros que voavam pela USP, os alunos que caminhavam descontraidamente, a folha que cessou a queda do alto da árvore. Mesmo os ponteiros do relógio haviam cessado o seu habitual tic-tac. O tempo havia parado. Toda a Terra e talvez até mesmo o universo haviam se congelado.
Após este breve instante de paralizia, o mundo voltou a si e então o orientador de Roque disse:
_Se você não sabe, acha que eu vou saber?

Thursday, January 26, 2006

Líder I- O banheiro

Qual estudante uspiano nunca ouviu falar do Rei das Batidas? Muitos podem nunca ter ido até lá, mas é pouquíssimo provável que tal boteco nunca tenha sido tangenciado em uma curta conversa para um aluno da USP.
O que muitas vezes não entra no mérito da conversa, normalmente por desconhecimento, é o banheiro do Rei das Batidas. Tal compartimento é uma lenda viva dentre aqueles que já o visitaram ou que pelo menos ouviram falar de suas estranhas características.
Em algum dia do ano de 2005, ou talvez 2004, os amigos Atkins, Líder, Roque, Thiago e Madruga foram fazer uma visita até o tão aclamado boteco. Para muitos era a primeira vez. Os cinco amigos sentaram-se numa mesa quadrada localizada na calçada. Foram pedidas as tradicionais cervejas e as batidas e suco para o Madruga, além da lingüiça frita no álcool a qual, segundo o Líder, no mundo inteiro apenas o Rei das Batidas preparava. Trata-se portanto de uma iguaria única, que apenas pode ser degustada no Rei.
A conversa dos cinco McQuarries ia muito bem, mas, como todos sabem, a cerveja exige o acompanhante banheiro. E foi então que Líder decidiu se arriscar e conhecer o lendário banheiro do Rei das Batidas. Líder se levantou resoluto da mesa, perguntou ao garçom onde era o banheiro e para lá se dirigiu. Entrando no banheiro Líder finalmente compreendeu porque aquele lugar era tão famoso. Na entrada do corredor, o teto possuia uma altura aproximada de dois metros, mas este ia gradativamente se abaixando até atingir um metro no final do mesmo corredor. E não era só isso. A visão mais espetacular era a posição dos mictórios. A primeira porta do corredor era a do banheiro masculino e a segunda do banheiro feminino. No entanto, entre estas duas portas, havia nada menos que os mictórios, ali mesmo, no corredor! Líder, com o seu espírito sagaz, decidiu urinar nos mictório, aproveitando-se do corredor estar vazio. Infelizmente, enquanto urinava, duas mulheres apareceram indo em direção ao banheiro feminino. Percebendo a grande tolice que tinha feito ao optar pelo mictório, Líder tentou disfaçar a situação para as duas mulheres que passavam por ele. Assim, Líder sorriu cavalheirescamente para as duas e ainda se virou, acenando para elas. É só uma pena que neste movimento Líder as tenha molhado!

Sunday, January 15, 2006

Emailda II- O homem sem cueca

Dentre todas as histórias de Emailda esta talvez seja a mais famosa. A fama nunca vem por acaso e certamente este conto revela bem uma das melhores travessuras de nossa amiga.
Emailda estava dentro no metrô, de pé, pouco antes deste entrar movimento. Seria uma viagem normal, como as que costumava fazer todos os dias quando voltava para sua casa, se não fosse por um pequeno incidente.
Olhando para o vazio, Emailda se preparava para o metrô dar a partida, quando então reparou em uma cena que, se não era inusitada, ao menos constrangedora deveria ser. A cerca de dois metros de distância havia nada menos que um homem sem cueca! Entenda-se, é claro, que o fato do homem estar sem cueca não significa naturalmente que ele estivesse também sem uma bermuda.
A esta afirmação o leitor talvez se pergunte como é então que Emailda sabia que o sujeito estava sem cueca. Infelizmente este que vós escreve não sabe a resposta. Ao relatar o caso, Emailda não deixou claro como soube da real situação do homem. Existe a hipótese de que ele estivesse usando uma bermuda transparente, mas isso também não é certeza.
Pois bem, voltemos à cena. Ao reparar que o homem estava sem cueca, Emailda fixou o olhar para ele, certamente admirada da cena pouco comum. E foi então que se deu o acontecido. Exatamente entre Emailda e o homem passou uma mulher, ao que este logo olhou, completamente embasbacado. Como conseqüência, seus corpos cavernosos imediatamente se encheram de sangue, o que foi bem perceptível para Emailda e para quem mais que estivesse olhando para o instintivo sujeito. Com a curiosidade atiçada ao extremo, Emailda foi até a mulher para olhá-la de frente e conferir todas as suas qualidades. Após vê-la minuciosamente e reconhecer que de fato ela possuia dotes invejáveis, Emailda dirigiu-se ao homem, a estas alturas já bastante constrangido, tentando inutilmente disfaçar a elevação cruzando as pernas. Emailda então, numa tentativa de tranqüilizar o pobre homem lhe dirigiu a palavra:
_Ô, não fica assim, se eu tivesse um também subia!

Saturday, December 31, 2005

Químico I- O mico

Saudosas aulas de Química II com o professor Riveros! Apesar de todas as penúrias a que estavam submetidos os McQuarries, as aulas de Química II eram das poucas em que a maioria deles podia se dar um conforto de aprender sem sofrer. O próprio didatismo de Riveros contribuia fortemente para isso. Este fantástico professor sempre expunha aulas claras e objetivas e, quando o conteúdo apresentado possuia uma complexidade um pouco maior, Riveros conscientemente dizia "Eeee... eee... eee...", dando assim tempo para que seus alunos digerissem a informação. Dessa forma, o que para um aluno mais desatento poderia representar um sinal de esquecimento devido à idade avançada, para os McQuarries, que sabiam da verdadeira intenção do professor, este era um ultramoderno método pedagógico.
Nosso conto versa sobre uma aula deste magnífico professor. Antes de partir para a história em si, é importate saber que apesar da alta qualidade docente e da disciplina de Química II ser a mais tranqüila do segundo semestre, ela também exigia suor e sangue dos McQuarries. E tudo se passou numa manhã, mais especificamente num intervalo de uma aula de Química. Alguns McQuarries, entre eles o Químico, ainda estavam na sala conversando, enquanto alguns outros alunos, inclusive o professor Riveros haviam saído. Naquele dia em particular Químico estava revoltado. Não agüentava mais as pressões do curso e suas críticas naquele momento se voltavam para a matéria de Química. O Químico falava abertamente sobre o absurdo das listas de exercícios, fazendo críticas claras ao professor. Quando o seu discurso estava no auge, Riveros entrou na sala. Para infelicidade do Químico, ele estava de costas para a porta e portanto não viu o professor entrar. Químico continuou o seu discurso, usando de toda a sua eloqüência, até que inevitavelmente ele percebeu a presença de Riveros...
E é por isso que depois deste episódio, cogitou-se fortemente em mudar o nome de Químico para Qui Mico.

Sunday, December 25, 2005

Gustavo I- A velhinha tarada

Nosso amigo Gustavo estava numa festa, mais precisamente no que se costuma chamar de balada. Dentre todos os integrantes da festa uma chamava especial atenção. Era uma velhinha que, apesar da idade, dançava com desenvoltura. Achando a situação curiosa, mas sem dar atenção exagerada a este fato, Gustavo estava também dançando na pista, mostrando que além de seus dotes como cantor, sabia dançar como ninguém. Utilizando-se de todas as suas poses de karatê-kid aprendidas com o mestre Miyagi, Gustavo esbanjava agilidade e técnica. Estava a festa neste rumo, cada uma das pessoas atuando como uma partícula de um gás perfeito, ocupando todo o espaço da pista até que a velhinha se aproximou aleatoriamente de Gustavo. E exatamente neste instante a energia elétrica do local acabou. A música parou de tocar e uma enorme escuridão se apossava de tudo. Pouco era possível enxergar e apenas objetos a alguns palmos diante dos próprios olhos eram visíveis. Para a sorte de nossa história, Gustavo estava perigosamente perto do ocorrido e pôde relatar o caso. Aproveitando-se da escuridão quase total, a velhinha esticou o braço e agarrou com firmeza o saco escrotal de um indivíduo que estava justamente ao lado de Gustavo. Apertando com força, ela disse:
_Quem é?
Não houve resposta. A velhinha então apertou com mais força e repetiu:
_Quem é?
Novamente silêncio. Não se conformando, a velhinha passou a apertar com todas as suas forças o saco do infeliz indivíduo. Era possível até ver as veias se sobressaindo do braço da velhinha, assim como os seus dentes rangendo.
_Quem é?
Uma voz então quase inaudível veio do rapaz:
_O João...
_Que João?
E este respondeu com uma voz ainda mais fraca:
_O mudinho!